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Os génios e o roubo: uma lição sobre o poder da interpretação no teatro Moçambicano
Fui convidado a assistir a uma obra teatral do grupo moçambicano Hopangalatana, na Liga Africana.
Acedi ao convite, sem pestanejar, até porque quem me conhece sabe o quanto amo o teatro. Chamou-me logo à atenção o título da peça: “Os génios e o roubo”. E recorri logo aos conceitos que tenho no meu vade mecum no que diz respeito ao sentido das duas palavras. Génio: pode ser definido como alguém que revela uma aptidão excepcional para execução de uma actividade, principalmente quando esta é associada ao intelecto ou um artista com grande inspiração. Roubo: para este termo, fui buscar a definição acolhida no nosso ordenamento jurídico. É o acto de subtrair coisa de outrem com recurso ao uso da força ou ameaça do uso da mesma. Nas mais das vezes, este termo é confundido com Furto. E esta confusão será por mim acolhida para fazer-me entender naquilo que mais abaixo vou descrever. Ora, descortinadas tais definições, devo dizer que aquilo que os nossos irmãos do Índico levaram à cena foi precisamente uma afirmação artística de tais definições. E atrevo-me a dizer que foi um pouco mais além das simples etimologia das palavras.
Longe dos conceitos surgiu a arte, na recreação do ser africano, no som da flauta, do mbiri mbiri, da viola e do batuque. Da profundidade do amor aos ritmos, aos sons e melodias tipicamente moçambicanas…
Do poder embriagante do folclore de um povo alegre que invade os nossos ouvidos e a nossa alma…
Da perfeita combinação de instrumentos musicais e pelo poder da força que a música possui desde os primórdios na nossa forma de ser e pensar a africanidade; Eis que surge a obra teatral Os génios e o roubo. Uma perfeita simbiose entre o enquadramento vocal e o poder das palavras, tal é a forma viva como são executadas as músicas ao longo das peças, e a arte de bem representar com todas as suas outras nuances.
Um binólogo revelador e inspirador que nos transporta aos contornos socialmente moçambicanos. Na sua raiz, na sua essência, enfim, na sua génese. Nos ritmos, na pesquisa e na riqueza do texto, nas falas e formas de falar, esta obra teatral leva-nos a viajar imaginariamente, durante cerca de uma hora, a Maputo, a Nampula ou a outra terra desta terra lusófona do indico. Terra de Samora Machel e da Cahora Bassa.

A Dramaturgia: o grande triunfo deste espectáculo
E em quase todos eles, uma lição de canto coral, de recital de poesia e de arte de bem tocar os instrumentos.

Como resumir o que os actores do Hopangalatana levaram à cena?
O que é que realmente deleitou a todos os presentes? Em palco estiveram, nada mais, nada menos que o cruzamento de duas gerações de artistas. Uma que bem personificou a soberba e presunção de quem muito sabe, ou pelo menos julga saber muito, os “Mestres. Estes mesmos que têm a obrigação histórica e quase divina de passar o testemunho aos mais novos para a preservação das nossas tradições. E uma segunda geração, representada por António, o aprendiz. A energia da nova vaga.
A força da juventude africana, determinada em aprender a tocar os instrumentos com precisão. E passaram horas a fio a ensaiar para atingir tal desiderato. E eis que entre lições e lições, noites e estrelas que se viram pela lua e pelo sol da manhã, entre o tempo que passava e o aprendiz que aprendia, acontece o inesperado: o roubo da réplica de um Stradivarius, um violino com mais de 400 anos de existência. Pasmo para todos os presentes. Afinal estamos a falar de uma peça de um valor inestimável, uma relíquia. E que estava precisamente guardada naquele pobre vilarejo, em casa do mestre de António.
Como podia aquele pobre homem ter um Stradivarius? Uma peça de arte, cujos valores de uma possível venda chegaria para edificar naquele vilarejo uma cidade como todos os quesitos arquitectónicos do séc. XXI. Então, aplica-se o velho ditado: “Nos lugares mais distantes estão as flores mais bonitas”. E neste caso, as obras de arte também. Destino cruel para o mestre. Ao mesmo tempo em que nada se podia falar do aprendiz, que curiosamente desapareceu namesma altura, daí resultando que recaiam sobre si, fortes suspeitas. Mas as investigações da polícia nada revelaram. Isso mesmo. Surge no decorrer da desgraça a figura imponente do polícia. Firme da forma de agir, de pensar e de vestir. Na forma meticulosa de levar avante as investigações.
Rodeada de zelo e falácias. E claro, tão real até mesmo nos resultados produzidos: Sem solução.

E o que dizer do cenário rústico? Inspirador. Pobre na concepção, mas ao mesmo tempo rico no colorido e na verdade que empresta à obra em si. Diria mais: oferece uma riqueza artística, espacial, geográfica, pois era a recreação de um postal dos recônditos lugares que geram arte e artistas, alguns com nome e dimensão transcendental. O cenário era mesmo uma combinação entre o rústico e o moderno. Descrição de um musseque tipicamente moçambicano, daqueles que existem em pouco por toda parte deste continente berço da humanidade. Em síntese: Espectacular.

Uma nota positiva e a excelente performance dos actores

Verdadeiros. Autênticos. Bons actores. Conseguiram personificar o elevado sentido de representação.
De cenário a cenário, de personagem a personagem, a mesma performance. Exímios tocadores de instrumentos musicais e seus corpos eram também como instrumentos tocados pela força do teatro que brota do palco em si. São actores que choram. Que se emocionam. E que emocionam quem os assiste. Conhecem alguém que conhece a perfeição? Tal como o aprendiz António, eu também não conheço. E suporto o fardo da vida pela arte feito um idiota achando que um dia conhecerei alguém perfeito. E se o Grupo Hopangalatana Teatro não atingiu a perfeição, de uma coisa pode ter certeza: Não ficou muito longe dela em termos teatrais. Os meus parabéns!
Esta obra é mesmo “maningue nice”.
Afonso Dinis “Amankwah”
Director e Encenador do Grupo de Teatro Kulonga

 

https://youtu.be/76lFvAa0KjQ
https://youtu.be/-QdyRgIBt7M
https://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=YOKGiAxz7Co#t=0
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